– Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio:
– Gosto mais de meu pai do que de mim mesma.
A mais moça respondeu:
– Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.
O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava tanto como as outras, e pô-la fora
do palácio. Ela foi muito triste por esse mundo, e chegou ao palácio de um rei, e aí se ofereceu
para ser cozinheira.
Um dia veio à mesa um pastel muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou
dentro um anel muito pequeno, e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de
quem seria aquele anel. Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando, até que foi
chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo
apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza.
Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com
trajos de princesa. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho
para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o
jantar do dia da boda.
– É porque a comida não tem sal.
O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não
tinha botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por
sua filha, que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de
sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.